Friday, May 27, 2005

cenas fluminenses II

chego em um barzinho metido a besta chamado w.o. numa esquina da moreira césar, em icaraí. a idéia é beber um chope sem maiores aporrinhações antes do "a queda! - os últimos dias de hitler", no estação icaraí. vou para o balcão - lugar dos solteiros que se dão ao respeito, de acordo com o mestre jaguar - e peço o tal chope. ao meu lado, um sujeito entre 45 e 50 anos, engravatado e absurdamente trincado de pó, a boca escancarada num sorriso permanente no pior estilo coringa. parece querer morder a própria orelha.

- posso te incomodar? - pegunta o coringa.
faço um gesto de "você vai incomodar mesmo que eu não quisesse" e ele repete:
- posso te incomodar? - mexendo-se como se estivesse com um formigueiro em erupção dentro das calças.
- diga lá - respondo.
- você é bem jovem, né? quanto? 19 anos.
- 24.
- ah, estuda o quê e onde? - ele diz, praticamente saltitando em frente ao balcão. minha vontade é dar logo uma bicuda nele para ver se ele pára quieto.
- letras, na uff.
- ah, professor...
- tradutor.
- é mesmo? sabe onde está a grana para a sua área? empresas de petróleo. pagam uma grana pra quem traduz manuais técnicos pra eles. vai por mim. um amigo meu tá nesse negócio, vai por mim. - ele diz, se aproximando com a incoveniência dos quimicamente alterados sem noção de tempo e espaço.
- eu trabalho mais com tradução literária.
- mas isso não dá dinheiro, dá?! não é onde está LA PLATA! hahahahahaha...

fico em silêncio e termino meu chope.

- paga o dele e o meu e traz mais dois - ele diz.
- não precisa.
- ah, isso aqui é mixaria... ...eu sou advogado. fiz um divórcio hoje. ô garçom, ô garçom, muda essa porra dessa música aí, caralho. pois é, fiz um divórico hoje. o marido, ex-marido, né, hahahaha, ficou arrasado. levei ele em casa e tudo. queria subir o morro pra comprar pó. não deixei. você usa drogas? usa né? as inofensivas ou as nocivas?
- depende de quais você considera nocivas e quais você considera inofensivas - respondo.
- tudo bem, tudo bem. vamos mudar de assunto. caralho, essa música é velha ("meio desligado", kid abelha: versão do acústico). essa paula toller é uma vadia. canta de perna aberta, já viu? vagabunda.
- hum.
- e as mulherzinhas, você faz uff e lá é cheio de mulherzinha né não? hahahahahaha

não respondo.

- eu fiz design na puc. peguei muita mulher. mas essa porra de design não dá dinheiro nenhum... ...aí fiz direito e montei esse escritório de advocacia. você faz tradução não é?
- é.
- pois é. ô garçom, paga esses dois aí. eu vou embora meu nobre. se a gente se ver por aí eu te pago um chope, senão... ...hahahahahaha...

então ele dá dois tapinha nas minhas costas e some, deixando a conta paga. peço mais um chope e bebo lentamente, esperando o começo da sessão.

7 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Eu, Plaza, conversando com 2 amigas no "laguinho" perto do cinema (estou com vergonha desse ambiente, mas....) Estava muito empolgada contando um certo sonho bizarro até que chega uma senhora desconhecida e começa a conversar comigo, o que me obriga a parar de falar. Inicialmente ela parecia normal, só um pouco intrometida, mas na bondade eu interpretei a intrusa como carente e fui educada dando a maior atenção, mamãe me ensinou a respeitar os mais velhos (!). Ela falava sobre quem tinha feito o laguinho. Ela sentou do MEU lado (claro, eu tenho o dom de atrair tal espécie) e disse que ia esperar até ver o chafariz funcionando. Eu estava já quase chorando por perceber que meu dom de atrair loucos tinha voltado a se manifestar até que a senhorinha se levanta bruscamente e diz que tava na hora de ir pq PAPAI JESUS ESTAVA CHEGANDO. Ela foi saindo dizendo que estava na hora de encontrar o "papai J.", que estava voltando. Eis que então, quando minhas lágrimas estavam escapando, tudo fica escuro e eu quase que acredito na velhinha. Ouvi trovões e começou a chover. Bom, mas era tudo parte do "show" oferecido pelo laguinho que eu nem sabia que acontecia... Oh, perseguição! Mas é bom saber que não sou a única!

4:46 PM  
Anonymous Anonymous said...

sério isso? hehehe que comédia! e acho que no meio disso ele tem alguma razão! essas traduções de manuais e tals dão grana hehehe uma amiga formada em jornalismo e mestrado em letras tá fazendo isso para uma empresa de informática, tá gostando e ganhando bem hehehe

6:34 PM  
Anonymous Anonymous said...

Você é roteirista?

8:05 AM  
Blogger André said...

ótimo relato.
essas pragas trincadas estão em todos os bares mesmo. Não sei a cara desse bar, mas aqui em SP eles aparecem nos bares mais da moda, tipo os da vila madalena que cobram quatro pila o chope. A vantagem de frequentar os bares podreiras é que pelo menos é melhor aguentar bebado mendigo falando do palmeiras que perdeu do que cheirado pós-yuppie falando de dinheiro.

12:46 PM  
Blogger fabiano m. said...

fala marcos, não meu caro, não sou roterista... escrevo com freqüência crônicas e poemas, mas nunca me aventurei em roteiros. quem é bom nisso é o rd.

6:36 PM  
Anonymous Anonymous said...

Realmente, bêbado yuppie é a pior coisa que existe.Exacerba tudo o que já existe de podre nele.Pelo menos, os ébrios pés-rapados parecem ser mais amorosos e engraçados...

2:24 PM  
Blogger ideiasaderiva said...

Aliás, Fabiano, estes casos de pessoas desesperadas por atenção devem ser já uma literatura à parte. Lembra daquele outro Fabiano que encontramos no Galeto perto do Bay Market? O cara queria porque queria contar a história da sua vida - e a gente lá cheio de literaturas e desastres amorosos, rs. Até cerveja pra gente ele queria pagar... É uma tragédia muito engraçada... tenta lembrar e postar também...

4:59 AM  

Post a Comment

<< Home

Free Web Site Counter
Free Hit Counter