Thursday, September 22, 2005

the future embrace - billy corgan



é uma coisa curiosa quando você acompanha a carreira de um sujeito há muito tempo. no caso do senhor billy corgan, ainda me lembro quando comecei a ouvir sua finada banda, os smashing pumpkins, nos idos de 1993. em meio à febre grunge, corgan e cia lançaram "siamese dream" (sucessor do psicodélico e setentista "gish"), com suas letras confessionais, repletas de angústia pós-adolescente e suas músicas grandiloqüentes, justamente quando o rock falava a língua crua dos três acordes do nirvana e seu séquito de bandas de seattle. depois veio a obra-prima "mellon collie and the infinite sadness", épico duplo e pretensioso que, na minha modesta opinião, é o melhor disco de rock dos anos noventa. em seguida, sempre remando contra a maré, os pumpkins lançam o introspectivo e repleto de texturas eletrônicas "adore" (1998), disco estranho, irregular, em que corgan canta sobre a morte da mãe e sobre toda sorte de amores falidos. a banda veio ao brasil para promover o disco -- que não contava mais com o virtuoso baterista jimmy chamberlain, expulso da banda durante a turnê do disco anterior por um incidente com drogas pesadas que custou a vida do tecladista contratado para os shows -- e fez um show que desagradou a platéia tacanha do extinto metropolitan, no rio, por não ter tido o peso que se esperava, à época, de um show dos pumpkins. eu estava lá e, por sinal, achei o show excelente. quando menos se espera, vem "machina - the machines of god" (2000), trazendo de volta a pujança das guitarras graves de corgan e as mãos abençoadas de jimmy chamberlain nas baquetas. os pumpkins então brigam com sua gravadora, a virgin, e lançam a "continuação" deste último disco somente na internet. o álbum se chama "machina II", conta com o irônico subtítulo de "friends and enemies of modern music" ("amigos e inimigos da música moderna") e é uma espécie de cala boca para a indústria fonográfica. o próximo passo de billy corgan, que tem fama de controlador e "difícil", é acabar com os smashing pumpkins e aparecer, em 2003, com seu novo projeto, a banda zwan. o projeto dura um só disco, "mary star of the sea", e o careca mais esquisito do mundo do rock desfaz mais uma banda, brigando com os demais integrantes. um livro de poesias depois, chamado "blinking with fists" (algo como "pestanejando com os punhos"), corgan reaparece com o inevitável disco solo "the future embrace". depois desta introdução extensa demais, é dele que eu pretendo falar.

faixa 1: all things change

o álbum abre com esta faixa que remete ao quase-eletrônico "adore", com suas batidas programadas quebradas, guitarras discretas repletas de reverb e vocais, na falta de adjetivo melhor, singelos. a letra diz que "todas as coisas mudam" e que "nunca se tem certeza sobre o que vale a pena lutar". começo que enfatiza a indecisão os questionamentos que vão permear todo o disco, como veremos adiante.

faixa 2: mina loy (m.o.h.)

mina loy traz uma introdução promissora de guitarras graves a la pumpkins e segue com sua batida seca e refrão grudento, no bom sentido ("posso dar meu velho coração para você?"). a letra também esbarra no velho tom apocalíptico dos pumpkins ("os dias do julgamento chegam") e entra em total contradição com a da primeira faixa dizendo "eu decidi jamais mudar"... ...boa canção.

faixa 3: the camera eye

temos em seguida uma das melhores músicas do disco, com seu começo com tempo estranho e ótima letra ("quem precisa de dor para sobreviver? eu preciso de dor para mudar minha vida"). frases de guitarra discretas e bonitas e instigantes vocais dobrados, mostrando a versatilidade da voz de corgan.

faixa 4: to love somebody

estranhíssima versão da música dos bee gees (!!!) com participação do eterno vocalista do cure, robert smith, fazendo aquela voz de quem acabou de acordar no refrão. de um jeito muito estranho, funciona.

faixa 5: A100

típica faixa de meio de disco. não me disse muita coisa com sua letra insossa e batidas new wave. muito parecido com a fase menos inspirada dos pumpkins...

faixa 6: dia

"dia" traz como músico convidado o acima mencionado baterista jimmy chamberlain, que hoje em dia capitaneia o projeto "the jimmy chamberlain complex", cujo primeiro disco chegou às lojas estadunidenses este ano. boa faixa com refrão pop competente.

faixa 7: now (and then)

bonita balada com vocais tristonhos à base de piano, batida eletrônica suave e guitarra baixinha ao fundo dedilhando improvisações. a letra sobre uma amizade antiga tem alguns versos de que gosto muito, como "não consigo escapar da árvore genealógica / as raízes estão enterradas muito fundo".

faixa 8: i'm ready

a faixa oito traz o mesmo tipo de batida eletrônica da maioria das canções anteriores e uma letra otimista: "quem quer que eu quisesse ser / eu já sou". porém, a música não se destaca entre as demais e dá uma certa sensação de estar sobrando no meio do álbum.

faixa 9: walking shade

segue o primeiro single, "walking shade", boa faixa de versos especialmente inspirados como "e no nono dia deus criou a vergonha", que resgata as paranóias cristãs de corgan, já presentes nos últimos trabalhos dos pumpkins. vocais agudos muito bons e frases de guitarra que ficam reverberando no ouvido após a audição.

faixa 10: sorrows (in blue)

as últimas três músicas fecham o disco no tom melancólico proposto no ínicio. o refrão traz corgan cantando (com direito a surpreendentes estripulias vocais) "nada me abençou ainda contra a tristeza". me lembra em muito as (excelentes) baladas do "mellon collie and the infinite sadness".

faixa 11: pretty, pretty STAR

outra balada no melhor estilo de "beautiful" e "farewell and goodnight", da melhor fase dos pumpkins.

faixa 12: strayz

não consigo imaginar maneira melhor de este disco terminar senão com esta música quase à capela, de vocais baixos, sussurrados, acompanhados somente de um leve dedilhar de guitarra, quase inaudível. um final apropriadamente merencório para um disco coerente na sua angústia discreta e não mais berrada a plenos pulmões, como corgan o fazia na longínqua da década de 1990.

o saldo final é um disco redondo , com boas canções e outras competentes, porém descartáveis. não chega a ter o brilho da produção anterior de billy corgan, mas se sustenta bem enquanto primeiro trabalho solo. o que já é bastante bom em se tratando de um compositor de música pop com mais de 15 anos (!!) de carreira. agora, que capa é essa?

11 Comments:

Anonymous Anonymous said...

capa: sinéad o'connor se fosse um travesti!!!!
cruzes!

11:18 PM  
Anonymous Anonymous said...

capa: sinéad o'connor se fosse um travesti!!!!
cruzes!

11:18 PM  
Blogger [sic]. said...

O que eu posso dizer? Sou fã de Iron Maiden, me desculpe. Tonight, tonight não é Fear of the dark...
Acho que você está na profissão errada. Leio essas suas matérias especiais como se fosse a Show Bizz ou o Rio Fanzine. Dá pra pensar a respeito?

12:45 AM  
Blogger André said...

benza deus, essa capa tá uma mistura de sinead o'connor com sade com bjork e com tricky.

smashing pumpkins e corgan pra mim é assim:
gish - meia-boca
siamese dream - fantástico
mellon collie - muito bom
adore - muito bom
machina - legal
zwan - bem legal
solo - ainda nao ouvi

agora, seria impossivel smashing pumpkins ser minha banda preferida. O Siamese, que é meu preferido, me agrada muito, mas sempre que ouço ele eu nao aguento ouvir de novo, justamente por causa da voz do Corgan. Nao tem nada mais enjoativo no rock (tirando, obviamente Ed Vedder), porém, a banda sempre foi muito boa, ele sempre foi um puta guitarrista e o Chamberlain sempre foi um baterista-monstro.

Mas esse vai-nao-vai dos projetos dele enche o saco, concorda? Agora ele tá falando de ressuscitar os Pumpkins. Tem cabimento?

6:52 AM  
Blogger fabiano m. said...

Isa: hahahaha, sua definição só não está perfeita, porque o andré matou a charada logo em seguida...

Marlon: se é pra citar iron, diga que "tonight, tonight" não é "aces high", "fear of the dark" é meia-boca... rs... ...e "rio fanzine"?, "show bizz"? tá me achando com cara de tom leão?, andré forastieri?. rs... como diria você, eu também te amo, meu jovem...

André: ahá, então você é desses que acha o "siamese..." melhor que o "mellon collie..."! seu indie! rs... o corgan é de fato um guitarrista fantástico, colocou todo mundo para babar naquele hollywood rock, especialmente no solo estendido de "porcelina of the vast oceans". quanto à voz, é chata mesmo, mas, como eu disse na crítica acima, bem versátil (e-mails reclamando para a redação). e esse vai-não-vai é um porre mesmo. espero que essa coisa de ressucitar os pumpkins não saia do papel, let sleeping dogs lie...

forte abraço.

7:24 AM  
Anonymous Anonymous said...

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7:35 AM  
Blogger [sic]. said...

HUAHUAHUA...sabia que você ia se revoltar...

1:17 PM  
Blogger RENATO DOHO said...

também acho a voz do Corgan meio irritante, assim como de Robert Plant, Jack White, Axl Rose e até Bob Dylan, mas pô André, Eddie Vedder? puta voz bonita! pode-se não gostar das canções, mas a voz... adoro, aquela voz que ressoa, forte.

7:02 PM  
Blogger André said...

renato doho, se o o dylan tem a voz anasalada, o ed vedder tem renite tripla.

fora que as caras e bocas que ele faz algumas vezes (tipo no clipe da jeremy) dá vontade de socar.

mesmo assim, devo ir no show deles se tiver grana. for the good ol' times sake.

e fabiano, compra lá o ingresso pro wilco antes que acabe!! e nossa cerveja?

5:51 AM  
Blogger fabiano m. said...

fala, andré. bad news: acho que não vai dar preu ir no wilco/arcade fire, apareceram umas despesas imprevistas e não acho que eu vá poder dispor da grana... ...enfim, de qualquer forma, te mantenho informado e caso dê preu ir você vai ser o primeiro a saber. forte abraço.

4:23 PM  
Anonymous Anonymous said...

A voz do corgan é a personalidade do cara! Não dá pra imaginar nada que o Billy faça sem isso (ia ficar sem personalidade)... Dizer que a voz dele é chata é insultar juntos Bob Dylan, Mercury Rev, Black Sabath... a voz do corgan é o que me chamou mais a atenção antes de começar a ouvir a banda...

Tudo é extremamente perfeito nos Pumpkins, o Zwan e o TheFutureEmbrace são menos grandiozos, mas ainda assim imbativeis...

E tonigh tonight não é fear of the dark pq é beeeem melhor (isso pq essa não é nem de longe a melhor música dos pumpkins - an ode to no one consegue estar no mesmo "patamar" peso e melodia de Fear Of The Dark, e podemos comparar as 2: das letras a música Billy Corgan se mostra genial ... já o Iron... letrinha infantil para fãs de metal que acham que tem um bicho papão morando no seu armário)

11:04 AM  

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