Monday, September 12, 2005

my death waits there / in a double bed



quando criança eu tinha medo de o mundo acabar. ficava horas no quarto de brinquedos da minha casa em padre miguel, remexendo nos carrinhos de metal, bonecos e revistas em quadrinhos, pensando no que aconteceria se a terra explodisse feito uma melancia jogada do décimo andar. eu não sabia, mas já era o medo da morte germinando na minha cabeça de meros sete anos de idade.

mais tarde, aos dez, não mais em padre miguel, e sim em três rios, o medo de o mundo acabar foi substituído por um pavor imenso da vida eterna como eu a concebia. tratava-se de um horror à idéia de que, após a morte, a consciência se prolongasse indefinidamente, singrando as eras num tédio imortal. de olhos fechados, na cama, imaginava o tempo post-mortem como linear e infinito e amargava essa idéia da linha se estendendo até se tornar insuportável.

óbvio, aos dez anos eu era um garoto impressionável e haviam me incutido todas as paranóias cristãs possíveis e imagináveis, ao ponto de eu criar este inferno particular, está prisão cósmica sem demiurgo. as ervas daninhas que se entrelaçam na sua cabeça na infância demoram uma vida inteira para serem retiradas, sendo que muitas vezes não saem por completo.

hoje, penso na morte em termos mais categóricos, menos místicos ou dramáticos. sempre considerei que a ausência de crenças tornasse a idéia da nossa mortalidade mais difícil de ser processada. agora, começo a achar que ela torna tudo mais fácil. com a palavra, ferreira gullar:

aprendizado

quando jovem escrevi
num poema 'começo
a esperar a morte'
e a morte era então
um facho
a arder vertiginoso, os dias
um heróico consumir-se
através de
esquinas e vaginas

agora porém
depois de
tudo
sei que
apenas
morro

sem ênfase

9 Comments:

Blogger [sic]. said...

O inferno não somos nós, jovem, são os outros, e certos espaços de tempo indefinidos são pequenos limbos, de onde achamos nunca haver saída... meu quarto em Olaria já foi prisão inexpugnável, local de orgias solitárias, porto seguro para chorar mágoas e, por fim, lembrança
de dar nó na garganta. A gente só descobre que envelheceu e que o tempo finalmente passou quando nossas memórias passam a ter dez anos, e você diz revirando os olhos "lembra"?

12:50 PM  
Blogger fabiano m. said...

marlon, um amigo meu certa vez disse "um belo dia você se olha no espelho e diz para si mesmo: 'estou velho'". quem da nossa geração não pensou, como vai ser quando chegarmos nos anos 2000, que parecia, quando éramos adolescentes, tão distante? pois bem, estamos em 2005, me aproximo de um quarto de século, meus irmão tem 30 anos, meus pais mais de 60...

5:28 PM  
Blogger fabiano m. said...

digo, "meu irmão".

5:29 PM  
Blogger [sic]. said...

E o que nós já fizemos? Você também se pega perguntando isso pra sua imagem no espelho, antes de se barbear?

11:48 PM  
Blogger André said...

completar 25 foi ruim pra mim. era um feriado mas eu tinha que trabalhar, estava completamente sozinho na produtora, e até então só minha mãe e meu pai tinham me ligado. Quando minha irmã, que vive em Jundiaí me ligou e perguntou se eu não queria ir lá comer um bolo, deixei o trabalho e fui pro terminal Tietê, não ligando nem um pouco com o emprego.

8:52 AM  
Anonymous Anonymous said...

Enquanto tudo, espero...

3:23 PM  
Anonymous Anonymous said...

É Fabi, parece mais fácil visualizar a vida como deve ser: nascimento, crescimento, reprodução, morte... Como animais que somos.

Ainda tenho minhas concepções e o incoveniente hábito de problematizar tudo, inclusive o fim, minha única certeza. Mas eu, pessoa comum, parte integrante de uma maioria, prefiro ser assim. Tento e quase sempre encontro justificativa para o injustificável e engano a mim mesma. Fechar os olhos e ser feliz, é isso.

8:42 PM  
Blogger ideiasaderiva said...

Fabiano, meu caro. Gosto muito quando os teus textos olham pra dentro... contam teus fatos (esqueca o óbvio de que sempre falamos da gente, mesmo quando ficcionamos, ou que sempre ficcionamos - esta eu inventei, agora, gostou - nos estamos é falando da gente). Isto não quer dizer que não goste do crítico de cinema, ou do crítico de arte ou do professor de literatura, ou, ou, ou... mas, o cronista cru (não entendi a referência do e'x'trangeiro) deve sair mais a passear. Abraço.

5:34 PM  
Blogger fabiano m. said...

obrigado, meus caros... ...é bom saber que este pobre marquês tem bons amigos que são bons leitores e bons leitores que são bons amigos...
qual a referência do marlon que você não entendeu, max?

9:35 PM  

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