arcade fire e wilco
já tive a oportunidade de ver algumas das minhas bandas e artistas favoritos ao vivo, mas foram poucas as vezes que assisti a um show que me deixasse de fato feliz. sim, feliz, alegre por estar vivo. o show do arcade fire ontem, dia 22 de outubro, no tim festival, conseguiu esta proeza.
fim de tarde, aguardo o amigo paulista andré z. p. e seus camaradas gente-boa osvaldo e luís no amarelinho, cinelândia. os três vieram de são paulo exclusivamente para verem o wilco, o arcade fire sendo, para eles, aperitivo. no meu caso era o contrário: o arcade era prato principal e o wilco, sobremesa. eles chegam e vamos para o douradinho tomar cerveja barata em vez de chope caro e morno no amarelo. algumas cervejas depois, como se aproximasse a hora do show, vamos para as imediações do mam para saideiras e para eu comer um cachorro-quente. alimentados e bebidos, rumamos para o museu às 22h:20; o show estava marcado para as 23h.
lá chegando, achamos a tenda lab e aguardamos (muito) o show da banda de abertura lado 2 estéreo. a dupla entrou no palco meia-noite, pedindo desculpas pelo atraso e justificando que eles não podiam entrar antes do fim do show da tenda jazz, pois o som vazava demais. simpático da parte deles. o show foi bacana, melhor do que eu esperava, e, como disse o andré, "nunca tinha visto ninguém percursionar o moog antes". só que ninguém tem paciência pra banda de abertura e estavam todos ávidos pelo arcade.
acabado o show do lado 2 estéreo, rumamos para o meio da platéia e esperamos a demorada montagem de palco. os roadies não paravam de trazer instrumentos: bumbo, acordeão, inúmeros violões e guitarras, cello, teclados, xilofone. também, pudera, a banda canadense possui sete integrantes e é famosa por sua, digamos, artilharia instrumental.
o arcade entra e ataca de vez com a epopéica "wake up", com seu coro de sete vozes reforçado pelo coro da platéia. o povo cantou verso a verso a letra, enlouquecendo com a habitual explosão de energia do septeto. um win butler impressionado com a receptividade da platéia emendou com seus cupinchas outros "sucessos" do disco "funeral" e do ep de estréia "us kids know" que fizeram a alegria dos indies presentes e deste que vos escreve: como "no cars go", "neighborhood #1: tunnels" e "neighborhood #2: laika", isso sem falar da versão esquisitona de "aquarela do brasil" em inglês (!), retirada, segundo butler, de "brazil: o filme", de terry gilliam. os integrantes do arcade fazem de tudo: pulam, correm, se esgoelam, revesam instrumentos e vocais, como na belíssima versão de "haiti", cantada meio em francês e meio em inglês por régine chassagne (esposa de win butler). merece destaque também o final apoteótico a cargo de "neighborhood 3#: power out" com direito ao xilofonista william butler (irmão do vocalista) não se restringindo a espancar o xilofone como também escalando a armação de ferro do palco para tocar nela (segundo o site de fãs do arcade, linkado no site oficial, will butler é responsável por tocar percussão, guitarra, baixo, pelos backing vocals e pelo "caos generalizado"). um show memorável, emocionante e que deixou toda a platéia em estado de graça.
em seguida, o wilco entrou no palco para dar continuidade à noite. não conheço bem a banda, ouvi somente o mais recente álbum, "a ghost is born", do qual tive uma boa impressão. o show a reforçou e, pelo jeito, foi um sonho realizado para os fãs: dois bis longos com direito ao vocalista jeff tweedy dizendo "a gente não vem muito aqui, então vai simplesmente continuar tocando" e a platéia se empolgando durante o que, suponho, sejam os hits do grupo.
enfim, dois shows excelentes por R$35, em boa companhia, numa noite de sábado. como diria fsx, "a vida não fica melhor do que isso".
7 Comments:
Belo texto! Gostei mesmo, bem escrito, bem narrado, bem real. Senti-me lá, ouvindo as vozes dos cantores (cantor?). Tem uma linguagem meio jornalística, o que só aumenta a qualidade do texto (vide Márquez, Hemingway, Melo Neto...). Juro!, achei ótimo.
Abraços,
Gabo
valeu, gabriel! vou dar um pulo lá no blog para ler as novidades também. forte abraço.
Porra, me adiciona no teu MSN: gabrielmaceufaria@hotmail.com
po fabiano, eu é que agradeço a preza. como te disse, só foi pena a correria toda, mas wilco foi o grande show que vi na vida, e douradinho reina!
abração.
que sorte a sua caro reverendo, meus sábados tem sido tão deprimentes quanto as canções do Wando... pelo menos posso vir aqui e festejar a vida de meus amigos. Abraço, otavio.
momentos de vida justificada são realmente raros. Cada um deles mereceria uma narração a (é com crase, metafrasta?) altura do bem que fazem. Às vezes tenho dúvidas: são poucos os narradores ou parcos são os momentos de vida?
Grande olhar crônico, do texto! Abraço!
gostei mais da parte da cerveja barata, já que sou um ignorante musical e fã de uma banda só, mas deixa quieto...
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