caráter dominante
muitos dos visitantes deste blog -- em se considerando que sejam muitos -- não sabem que eu tenho um livro de poesia escrito, porém não publicado. chama-se "caráter dominante", e está pronto desde dois anos atrás. eu e o legendário fsx tínhamos a intenção de lançá-lo como e-book, porém, o tempo passou, implacável como de costume, as coisas aconteceram (ou não aconteceram) e o projeto minguou. hoje em dia, nem mesmo banco este livro a ponto de lançá-lo. muito do que escrevi nele já não mais escreveria e não me vejo mais em muitos dos poemas. os primeiros vinte poemas do livro (são cinqüenta ao todo) faziam parte do que eu gostava de chamar de "poesia combativa", quando eu tinha mais certeza no combate, antes de muito acontecer, antes inclusive do lula lá. independemente de crer na qualidade e no argumento do poema título como um dia acreditei, gostaria de compartilhá-lo com vocês. sejam gentis na leitura, é um poema de alguns anos atrás.
caráter dominante
aqui, temos que esconder nosso amor
pois neste exílio somos todos desiguais
somos mães sem filhos
e filhos sem mães
esperando uma revolução
que tarda e tarda
mas só sabemos fazer esperar
à noite, nós temos nosso alívio
quando sorrimos às escondidas
e somos tão indignados
tão indignados
nas nossas mesas com tampos de mármore
nas nossas veias bem nutridas e bem saudáveis
em nossos trabalhos
tão incongruentes, tão maquinaria
quem nos visse despercebido
nem nos saberia gente
acharia uma graça triste
nas nossas desculpas e nos nossos senões
quando amamos
amamos constrangidos
cientes do nosso ridículo
e evitamos os olhares na pupila
nos pêlos e nas varizes
tão assépticos, tão crescidos!
nossas unhas são manicuradas
nossos dentes, esmaltados
nos nossos olhos você pode ver uma faísca
quase brilho, quase humana
não somos adultos, não somos crianças
nos consumimos na nossa própria arrogância.
caráter dominante
aqui, temos que esconder nosso amor
pois neste exílio somos todos desiguais
somos mães sem filhos
e filhos sem mães
esperando uma revolução
que tarda e tarda
mas só sabemos fazer esperar
à noite, nós temos nosso alívio
quando sorrimos às escondidas
e somos tão indignados
tão indignados
nas nossas mesas com tampos de mármore
nas nossas veias bem nutridas e bem saudáveis
em nossos trabalhos
tão incongruentes, tão maquinaria
quem nos visse despercebido
nem nos saberia gente
acharia uma graça triste
nas nossas desculpas e nos nossos senões
quando amamos
amamos constrangidos
cientes do nosso ridículo
e evitamos os olhares na pupila
nos pêlos e nas varizes
tão assépticos, tão crescidos!
nossas unhas são manicuradas
nossos dentes, esmaltados
nos nossos olhos você pode ver uma faísca
quase brilho, quase humana
não somos adultos, não somos crianças
nos consumimos na nossa própria arrogância.