Saturday, August 27, 2005

caráter dominante

muitos dos visitantes deste blog -- em se considerando que sejam muitos -- não sabem que eu tenho um livro de poesia escrito, porém não publicado. chama-se "caráter dominante", e está pronto desde dois anos atrás. eu e o legendário fsx tínhamos a intenção de lançá-lo como e-book, porém, o tempo passou, implacável como de costume, as coisas aconteceram (ou não aconteceram) e o projeto minguou. hoje em dia, nem mesmo banco este livro a ponto de lançá-lo. muito do que escrevi nele já não mais escreveria e não me vejo mais em muitos dos poemas. os primeiros vinte poemas do livro (são cinqüenta ao todo) faziam parte do que eu gostava de chamar de "poesia combativa", quando eu tinha mais certeza no combate, antes de muito acontecer, antes inclusive do lula lá. independemente de crer na qualidade e no argumento do poema título como um dia acreditei, gostaria de compartilhá-lo com vocês. sejam gentis na leitura, é um poema de alguns anos atrás.

caráter dominante

aqui, temos que esconder nosso amor
pois neste exílio somos todos desiguais
somos mães sem filhos
e filhos sem mães
esperando uma revolução
que tarda e tarda
mas só sabemos fazer esperar

à noite, nós temos nosso alívio
quando sorrimos às escondidas
e somos tão indignados
tão indignados
nas nossas mesas com tampos de mármore
nas nossas veias bem nutridas e bem saudáveis

em nossos trabalhos
tão incongruentes, tão maquinaria
quem nos visse despercebido
nem nos saberia gente
acharia uma graça triste
nas nossas desculpas e nos nossos senões

quando amamos
amamos constrangidos
cientes do nosso ridículo
e evitamos os olhares na pupila
nos pêlos e nas varizes
tão assépticos, tão crescidos!

nossas unhas são manicuradas
nossos dentes, esmaltados
nos nossos olhos você pode ver uma faísca
quase brilho, quase humana
não somos adultos, não somos crianças
nos consumimos na nossa própria arrogância.

Thursday, August 18, 2005

conversando literaturas



ilustres,

terça-feira passada (16/08) demos, eu e máximo heleno, a partida no projeto "conversando literaturas", que pretende abrir um espaço na universidade federal fluminense para um bate papo informal sobre diversos autores de várias nacionalidades, entre eles, jack kerouac, jorge luiz borges, arturo arias, gabriel gárcia marquez e julio cortázar. para os que quiserem saber como foi a tertúlia de inauguração e como será o projeto daqui em diante, visitem o crônicas à deriva para um pequeno relato sobre a iniciativa que vai desbancar as rodas de leitura do ccbb.

abraços.

Saturday, August 13, 2005

sangue e cansaço nas veias,
nenhuma linha escrita em meses,
como se nada bom ou ruim
que causasse espécie
viesse na minha esteira

e o que interessa?
alegria postiça
não mais me interessa,
tristeza farsesca
não mais me interessa:

expedientes inúteis,
sinapses insinceras,
não eriçam os pêlos
não aquecem a pele.

na página, sem querer, inércia
a bile descompensada
não gera mais nada
senão eco sobre eco

estiagem da tinta,
seca severa das metáforas,
aragem abandonada,
os versos, terras calcinadas.

Wednesday, August 03, 2005

the arcade fire



os canadenses da foto acima, integrantes do grupo the arcade fire, são os responsáveis pelo melhor disco que meus ouvidos escutaram este ano: funeral. como as coisas estão, acho bastante difícil que alguém consiga tirá-los do pódio. a voz de win butler me lembra o bowie da década de setenta (época do hunky dory, mais ou menos) e a da sua esposa e também vocalista, régine chassagne, tem um quê de björk da época do sugar cubes, só que menos estridente (atenção à fabulosa última faixa: "in the back seat"). além dos arranjos espertos, o que mais destaca o arcade fire da vala comum são as letras estranhas, oníricas e belas, tomem como exemplo a letra da faixa de abertura "neighborhood #1 (tunnels)" que traduzo abaixo:

e se a neve enterrar a minha,
a minha vizinhança
e se meus pais estiverem chorando
eu vou cavar um túnel
da minha janela para a sua,
sim, um túnel da minha janela para a sua.
você sairá pela chaminé
e me encontrará no meio,
no meio da cidade.
e já que não vai ter ninguém por perto
nós deixaremos nossos cabelos crescerem
e esqueceremos tudo o que sabíamos
e então nossa pele vai ficar mais grossa
por vivermos na neve.

você transforma todo o chumbo
pousado na minha cabeça
enquanto o dia escurece
eu ouço você cantar um hino dourado.

então, nós tentamos dar nomes às nossas crianças
Mas nós nos esquecemos dos nomes,
dos nomes que sabíamos
mas, às vezes, nos lembramos dos nossos quartos
e dos quartos dos nossos pais
e dos quartos dos nossos amigos.
então nós pensamos nos nossos pais,
o que terá acontecido com eles?

você transforma todo o chumbo
pousado na minha cabeça em ouro
enquanto o dia escurece
eu ouço você cantar um hino dourado,
a canção que estou tentando dizer.

purifique as cores, purifique minha mente
purifique as cores, purifique minha mente
e espalhe as cinzas das cores
sobre este meu coração!


ah, esses canadenses. me agrada a idéia de um país que deu à humanidade cronenberg, logan e leonard cohen.

Tuesday, August 02, 2005

sessão nostalgia



é isso aí, bateu uma nostalgia e eu resolvi postar uma foto em homenagem a um dos meus ídolos da adolescência: mr. layne staley.
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