Sunday, April 24, 2005

habemus papam! II ou la nuova gioventù

deu no globo de domingo:

Jovens do Rio de Janeiro formam escudo para o conservadorismo

A noite da última terça-feira foi festiva para o estudante Mário Oliveira, de 23 anos, e mais sete amigos. Eles se encontraram numa churrascaria na Tijuca para comemorar a eleição de Joseph Ratzinger como Papa. Todos pertencem à ONG Ação pela Família, que defende os valores tradicionais das relações familiares. Não têm qualquer divergência com o que prega Bento XVI, considerado um conservador em aspectos comportamentais, como a condenação do aborto e de contraceptivos.

Mário e os amigos criaram a ONG no ano passado, pouco depois de o deputado estadual Gilberto Palmares (PT) propor a criação do Dia do Orgulho Gay. Indignados, foram à Assembléia Legislativa e se reuniram com deputados para tentar vetar o projeto-de-lei.

— Não é certo criar o Dia do Orgulho Gay (negrito meu) quando ainda não há o Dia do Pai de Família, por exemplo. Não aceitamos a ditadura do homossexualismo (negrito meu, de novo) — afirma Mário.

A ONG também combate o projeto que prevê a proibição de imagens religiosas em repartições públicas, mas não são apenas questões coletivas que mobilizam estes jovens católicos, que, segundo a pesquisa da FGV, são cada vez menos numerosos. Eles optaram pela castidade até o casamento, por exemplo. Criado numa família católica, Mário conta que viveu um período “desligado” a partir dos 16 anos, mas se converteu definitivamente aos 18, mesmo tendo de abrir mão de algumas liberdades.

— Sei que somos exceções. Mas um atleta não tem de evitar certos exageros para jogar bem? — diz.

A escolha de Bento XVI agradou:

— Tínhamos medo de que a Igreja se desvirtuasse. Foi uma escolha iluminada pelo Espírito Santo — diz.

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ah, como eu amo nossa juventude calhorda, conservadora, maniqueísta, homofóbica e carola.

Saturday, April 23, 2005

habemus papam!


entreouvido num programa de rádio no qual um certo padre cantante atende telefonemas dos fiéis:

- bom dia, quem está do outro lado da linha?...
- bom dia, padre.
- bom dia, irmão, qual é seu nome?
- é uóshington, padre.
- e quem você quer que eu coloque na minha oração uóshington?
- é... eu queria que o senhor... eu tô muito nervoso, padre, é que eu não sei se...
- tenha calma irmão, qual é o seu probelma?
- é o meu cunhado, padre, ele tá na prisão.
- sim, uóshington, que deus o proteja, qual é o nome dele?
- não, padre, é que ele tá na prisão...
- sim, uóshington, eu vou incluir seu cunhado nas minhas orações, mas qual é o nome dele, uóshington?
- é que o meu cunhado, o rodolfo, tá na prisão porque... eu não sei padre, é que deu o diabo nele e ele matou minha irmã com uma picaretada na cabeça, sabe?
- louvado seja o senhor!
- e aí eu queria que o senhor rezasse pra alma da minha irmã...
- pois sim, uóshington, eu vou incluir a sua irmã e o seu cunhado na minha oração, louvado seja o senhor, misericórdia. qual era o nome da sua irmã?
- adelaide, padre.
- louvado seja o senhor, próxima ligação?

Monday, April 18, 2005

o clã das adagas voadoras


pois bem, li e ouvi muitas vezes que o clã das adagas voadoras era melhor do que o seu antecessor, herói. enquanto via a sessão do primeiro, fiquei imaginando por que diabos isso seria verdade. não pode ser em termos de narrativa. uma vez que herói possuia uma narrativa, senão inovadora, ao menos muito mais engenhosa (toda construída na base de falsos flashbacks: primeiro a história que o personagem de jet li contava ao rei; depois a versão imaginada como verdadeira pelo rei; e somente então a versão real do que aconteceu, de modo que o espectador ficava responsável por discernir os pontos de convergência entre as três versões do mesmo fato) do que a narrativa linear de o clã...

esteticamente, o segundo filme pode ser, e o é, bastante impressionante (confesso que as primeiras cenas, especialmente a seqüência do jogo dos ecos, me encheram os olhos), mas não chega perto da coerência, em termos de composição, do primeiro.

isso sem falar que a história (e o tratamento que ela recebe) em o clã... é extremamente clichê, enquanto em herói, mesmo que a história não seja surpreendente, o tratamento não se rende (tanto) aos vícios narrativos hollywoodianos, como por exemplo, música melodramatica nos momentos "emocionantes" e "empolgante" nos momentos de ação; ou diálogos quase débeis-mentais nos momentos "românticos".

de uma forma geral, o clã... é um filme muito mais convencional e ocidentalizado do que herói e, pelo menos para mim, isso é um grande defeito.

junky - william burroughs


levei um susto ao entrar na livraria da galeria do são luiz e me deparar com esta nova edição de junky, do william burroughs, pela ediouro. li há alguns anos a edição da brasiliense, que na década de 1980 fez a boa ação de lançar os beats cá em pindorama. burroughs foi o primeiro autor do movimento beatnik que li e lembro de ter ficado bastante impresionado com a crueza do texto, a estoicidade em se falar das experiências com drogas e lucidez que se reflete tanto no estilo seco quanto na postura ideológica do autor/personagem. burroughs difere bastante dos outros autores de sua geração: não se vê nele nem a tal "prosa espontânea" de kerouac, nem o bucolismo zen-budista de gary snyder, nem tampouco a loucura messiânica e lisérgica de ginsberg. burroughs é extremamente urbano, sagaz, quase um cientista não só no trato das (várias) substâncias que consome, mas do texto em si.

esta nova e belíssima edição baseia-se na edição americana de 2003, da penguin: junky - the definitive text of junk, comemorativa do qüinquagésimo aniversário da obra. assim como o livro americano, traz um capítulo inédito; a introdução do próprio burroughs, nunca dantes publicada; textos auxiliares de ginsberg e outros; e baseia-se na transcrição, palavra por palavra, dos manuscritos originais.

o livro integra a coleção "intoxicações" que traz também os paraísos artificiais, de baudelaire (com tradução do saramago), e confissões de um comedor de ópio, de thomas de quincey.

obrigado, ediouro.

Saturday, April 09, 2005

sex pistols - live at the longhorn


por R$9,90, nas lojas americanas, você pode comprar um registro de 1978 de um show dos sex pistols no longhorn balroom, texas. vale a pena, apesar de o show ser bastante curto (apenas nove músicas, contando com o bis). johnny rotten e steve jones ficam provocando a platéia o tempo todo chamando-os de cowboys e faggots e sid vicious se arrebenta todo: no final do show ele está coberto de sangue que jorra não se sabe se da boca, do nariz ou dos dois.

eles abrem com uma performance morna de "emi", música que tira um sarro da gravadora major da qual haviam sido chutados em janeiro de 1977. johnny rotten termina a música falando "and goodbye a&m", outra gravadora que os havia expulsado em março do mesmo ano. a segunda música é a bombástica "bodies", que conta a história de uma garota que faz um auto-aborto, seguida pela igualmente desconfortável "belsen was a gas", sobre o campo de concentração nazista de bergen-belsen. outros pontos altos são "no feelings" e "problems" que conta com sid vicious fazendo possivelmente os piores backing vocals da história do rock. o bis é uma arrasadora versão de "no fun", dos stooges com direito a steve jones comprando briga com um sujeito da platéia.

o dvd ainda traz os dois únicos clipes dos pistols, "anarchy in the uk" e "god save the queen". estranhamente, a minha cópia não roda este último: quando dou o play no ícone do clipe, o show começa de novo, só aparecendo as legendas da letra de "god save the queen" enquanto passam as imagens do show. vai saber.

Thursday, April 07, 2005

crepuscular

não quero fazer
a apologia do meu desespero,
embora não me falte motivos
para pensar que ele,
e somente ele, me mantém vivo.

nem quero que minha apatia e desapego
sejam bandeiras de exortação
ao vencido,
embora não me falte motivos
para vê-los como arrimo.

sendo apenas um dos muitos que morrerão,
quero apenas viver para presenciar
o meu próprio apocalipse.

Sunday, April 03, 2005

escuridão ao meio-dia - geraldo mayrink

o título se refere ao livro darkness at noon, de arthur koestler e o agradecimento no frontispício é ao próprio, "pela atitude" de ter se matado junto com a mulher misturando conhaque e barbitúricos. interessante que um livro cujos subtítulos dizem "para que servem os homens - textos sobre a condição masculina" comece com um agradecimento na forma de apologia ao suicídio.

geraldo mayrink quis, com esse livro, fazer uma genealogia bem pouco acadêmica do bicho-homem, do varão, do macho, etc. começa mal, com um capítulo metido a engraçadinho sobre a aurora do homem e sobre o mito de adão e eva. ganha fôlego quando começa a falar do homem acuado pelo feminismo e das ridículas tentativas (nos eua, onde mais?) de reafirmação masculina, como o livro-manifesto de robert bly, joão de ferro - um livro sobre homens:

"bly convocou os americanos a se reunirem e despertarem o homem selvagem que neles ainda habita, ainda que soterrado. para quê, não se sabe, mas esta pergunta não é feita a cada um que possa pagar 500 dólares pela temporada viril. por esse preço, homens que querem honrar seus nomes e suas calças podem passar um fim de semana cantando, dançando, tocando tambor e pintando o corpo como guerreiros, tratando-se de 'zebra' ou 'búfalo d'água'. as mulheres que não riam destas coisas, senão apanham. pois 'eles se divertem muito, se soltam, sentem-se muito felizes', comentou bly, como se estivesse falando de um bloco de escola de samba ou de uma nova invenção no mundo, em termos de festa."

a coisa fica ainda mais engraçada (ou bizarra, depende do ponto de vista) quando mayrink começa a falar de complexos tão queridos aos homens, como o tamanho do cheio de varizes, impotência e ejaculação precoce. ele inclusive cita exemplos da literatura e do cinema sobre os assuntos:

"o filme sexo, mentiras e videoteipe amplia drasticamente a definição do que seja impotência, quando um homem diz para uma mulher que o corteja: 'não é que eu não possa ter ereção. não consigo tê-la na presença de outra pessoa.' uma confissão como esta abre um mundo sem fim de indagações filosóficas e existenciais. 'outra pessoa', ele diz. o inferno são os outros, postulou um filósofo da existência, do ser e do nada."

outro capítulo interessante é "o único homem sobre a terra", quase totalmente dedicado a daniel paul schreber (1842-1911), picareta que desafiou a mente de freud que tentou mas não conseguiu entender o único livro de sua autoria: memórias de um doente dos nervos. o busílis é que schreber:

"acreditou ser macho e fêmea ao mesmo tempo, e isso sem nenhuma blasfêmia ou noção de pecado, mas 'em nome de deus todo-poderoso'. ele ouvia 'música celestial' em qualquer lugar. enxergava 'dois sóis faiscantes' à luz do dia e, à noite, deparava-se com ursos negros e gatos 'de olhos brilhantes'. dizia que 'o bom deus é uma prostituta' e que 'sou o primeiro cadáver leproso'."

e esses são apenas alguns exemplos dentre outras alegrias que o tornaram o mais célebre caso psiquiátrico de todos os tempos, e seus escritos, paradoxalmente, revelam uma impressionante lucidez sobre seu estado patológico. como o sr. schreber nunca foi tratado, na realidade o paciente não é ele, mas seu livro.

para finalizar, mayrink se debruça sobre dois fetiches clássicos que permeiam a psique masculina: sadomasoquismo e podofilia. para tanto, mais uma vez extrai exemplos das artes falando sobre a podofilia de nabokov (vejam bem, podofilia, e não pedofilia), mas deixa de lado, tristemente, o vênus das peles, de leopold von sacher-masoch, o pai dessa brincadeira toda de s&m.

em suma, um bom livro, fácil e agradável de ler que inverte a famosa pergunta de freud ao inquirir "mas, afinal, o que querem os homens."
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