Friday, September 30, 2005

jerônimo



atenção meu povo, hoje, 30 de setembro, é dia de são jerônimo, padroeiro dos tradutores. não sou lá muito pio, mas vale a lembrança e, quiçá, acender uma vela. o homem nasceu, supostamente, no ano 342 DC, na dalmácia e morreu em 420. deixou como legado a tradução da bíblia para o latim, a vulgata, usada até hoje. correspondeu-se também com "celebridades" da época, como santo agostinho. o leão que os leitores vêem na pintura de jan van eyck teria se afeiçoado ao tradutor depois que ele lhe tirou um espinho da pata.

Wednesday, September 28, 2005

conversando literaturas - 27/09


- o encontro foi muito bom, mas quase não veio mulher...


- é verdade, estou ficando preocupado com esta porra.


- ah, peidei...

dia 27 ocorreu mais uma edição do fabuloso "conversando literaturas", no qual discutimos com muito sucesso o "vagabundos iluminados", do kerouac. para uma crônica completa e definitiva do encontro, visitem o blog do marlon, que vocês já conhecem muito bem: continuo sendo ignorado sistematicamente. mas visitem rápido, pois o jovem atualiza o dito cujo diariamente.

Thursday, September 22, 2005

the future embrace - billy corgan



é uma coisa curiosa quando você acompanha a carreira de um sujeito há muito tempo. no caso do senhor billy corgan, ainda me lembro quando comecei a ouvir sua finada banda, os smashing pumpkins, nos idos de 1993. em meio à febre grunge, corgan e cia lançaram "siamese dream" (sucessor do psicodélico e setentista "gish"), com suas letras confessionais, repletas de angústia pós-adolescente e suas músicas grandiloqüentes, justamente quando o rock falava a língua crua dos três acordes do nirvana e seu séquito de bandas de seattle. depois veio a obra-prima "mellon collie and the infinite sadness", épico duplo e pretensioso que, na minha modesta opinião, é o melhor disco de rock dos anos noventa. em seguida, sempre remando contra a maré, os pumpkins lançam o introspectivo e repleto de texturas eletrônicas "adore" (1998), disco estranho, irregular, em que corgan canta sobre a morte da mãe e sobre toda sorte de amores falidos. a banda veio ao brasil para promover o disco -- que não contava mais com o virtuoso baterista jimmy chamberlain, expulso da banda durante a turnê do disco anterior por um incidente com drogas pesadas que custou a vida do tecladista contratado para os shows -- e fez um show que desagradou a platéia tacanha do extinto metropolitan, no rio, por não ter tido o peso que se esperava, à época, de um show dos pumpkins. eu estava lá e, por sinal, achei o show excelente. quando menos se espera, vem "machina - the machines of god" (2000), trazendo de volta a pujança das guitarras graves de corgan e as mãos abençoadas de jimmy chamberlain nas baquetas. os pumpkins então brigam com sua gravadora, a virgin, e lançam a "continuação" deste último disco somente na internet. o álbum se chama "machina II", conta com o irônico subtítulo de "friends and enemies of modern music" ("amigos e inimigos da música moderna") e é uma espécie de cala boca para a indústria fonográfica. o próximo passo de billy corgan, que tem fama de controlador e "difícil", é acabar com os smashing pumpkins e aparecer, em 2003, com seu novo projeto, a banda zwan. o projeto dura um só disco, "mary star of the sea", e o careca mais esquisito do mundo do rock desfaz mais uma banda, brigando com os demais integrantes. um livro de poesias depois, chamado "blinking with fists" (algo como "pestanejando com os punhos"), corgan reaparece com o inevitável disco solo "the future embrace". depois desta introdução extensa demais, é dele que eu pretendo falar.

faixa 1: all things change

o álbum abre com esta faixa que remete ao quase-eletrônico "adore", com suas batidas programadas quebradas, guitarras discretas repletas de reverb e vocais, na falta de adjetivo melhor, singelos. a letra diz que "todas as coisas mudam" e que "nunca se tem certeza sobre o que vale a pena lutar". começo que enfatiza a indecisão os questionamentos que vão permear todo o disco, como veremos adiante.

faixa 2: mina loy (m.o.h.)

mina loy traz uma introdução promissora de guitarras graves a la pumpkins e segue com sua batida seca e refrão grudento, no bom sentido ("posso dar meu velho coração para você?"). a letra também esbarra no velho tom apocalíptico dos pumpkins ("os dias do julgamento chegam") e entra em total contradição com a da primeira faixa dizendo "eu decidi jamais mudar"... ...boa canção.

faixa 3: the camera eye

temos em seguida uma das melhores músicas do disco, com seu começo com tempo estranho e ótima letra ("quem precisa de dor para sobreviver? eu preciso de dor para mudar minha vida"). frases de guitarra discretas e bonitas e instigantes vocais dobrados, mostrando a versatilidade da voz de corgan.

faixa 4: to love somebody

estranhíssima versão da música dos bee gees (!!!) com participação do eterno vocalista do cure, robert smith, fazendo aquela voz de quem acabou de acordar no refrão. de um jeito muito estranho, funciona.

faixa 5: A100

típica faixa de meio de disco. não me disse muita coisa com sua letra insossa e batidas new wave. muito parecido com a fase menos inspirada dos pumpkins...

faixa 6: dia

"dia" traz como músico convidado o acima mencionado baterista jimmy chamberlain, que hoje em dia capitaneia o projeto "the jimmy chamberlain complex", cujo primeiro disco chegou às lojas estadunidenses este ano. boa faixa com refrão pop competente.

faixa 7: now (and then)

bonita balada com vocais tristonhos à base de piano, batida eletrônica suave e guitarra baixinha ao fundo dedilhando improvisações. a letra sobre uma amizade antiga tem alguns versos de que gosto muito, como "não consigo escapar da árvore genealógica / as raízes estão enterradas muito fundo".

faixa 8: i'm ready

a faixa oito traz o mesmo tipo de batida eletrônica da maioria das canções anteriores e uma letra otimista: "quem quer que eu quisesse ser / eu já sou". porém, a música não se destaca entre as demais e dá uma certa sensação de estar sobrando no meio do álbum.

faixa 9: walking shade

segue o primeiro single, "walking shade", boa faixa de versos especialmente inspirados como "e no nono dia deus criou a vergonha", que resgata as paranóias cristãs de corgan, já presentes nos últimos trabalhos dos pumpkins. vocais agudos muito bons e frases de guitarra que ficam reverberando no ouvido após a audição.

faixa 10: sorrows (in blue)

as últimas três músicas fecham o disco no tom melancólico proposto no ínicio. o refrão traz corgan cantando (com direito a surpreendentes estripulias vocais) "nada me abençou ainda contra a tristeza". me lembra em muito as (excelentes) baladas do "mellon collie and the infinite sadness".

faixa 11: pretty, pretty STAR

outra balada no melhor estilo de "beautiful" e "farewell and goodnight", da melhor fase dos pumpkins.

faixa 12: strayz

não consigo imaginar maneira melhor de este disco terminar senão com esta música quase à capela, de vocais baixos, sussurrados, acompanhados somente de um leve dedilhar de guitarra, quase inaudível. um final apropriadamente merencório para um disco coerente na sua angústia discreta e não mais berrada a plenos pulmões, como corgan o fazia na longínqua da década de 1990.

o saldo final é um disco redondo , com boas canções e outras competentes, porém descartáveis. não chega a ter o brilho da produção anterior de billy corgan, mas se sustenta bem enquanto primeiro trabalho solo. o que já é bastante bom em se tratando de um compositor de música pop com mais de 15 anos (!!) de carreira. agora, que capa é essa?

Sunday, September 18, 2005

vai começar o desespero



agora não tem jeito. chegou no jornal de sábado o suplemento sobre o festival do rio 2005. mais desanimado do que qualquer outra coisa pelo mar de filmes que vou querer ver, pelo pesadelo que é a compra dos ingressos, pelas duas semanas de idas e vindas para o rio que prevejo, e pelo prospecto angustiante de ter que enfrentar novamente o hall do estação unibanco lotado de habitantes da zona sul do rio, só hoje criei coragem de folhear a programação para fazer a bendita triagem dos filmes. acabada a tarefa inglória, sou obrigado a capitular: a programação é a melhor que vejo em anos de festival.

para começar a alegria, os organizadores conseguiram trazer os outros dois capítulos da trilogia de park "old boy" chan-wook: "senhor vingança" (anterior a "old boy") e "lady vingança" (posterior). conseguiram também o filme "três... extremos" que reúne, em três episódios, a nata do cinema extremo oriental contemporâneo: o próprio chan-wook, fruit chan e o genial e demente takashi miike.

poderemos deliciar nossos olhos com os novos trabalhos de wong kar-wai, o aguardadíssimo "2046" e o curta-metragem que o homem dirigiu no filme "eros", cujos outros dois episódios são de ninguém menos que antonioni e soderbergh. além do novo lars von trier, "marderlay", continuação de "dogville", que vou deixar para ver quando entrar em circuito e da sua colaboração como roterista com thomas "festa de família" vinterberg: "querida wendy".

este ano ainda conta com a adaptação de "oliver twist", de polanski; o novo gus van sant, "last days", no qual o diretor de "drugstore cowboy" dá sua versão dos dias que antecederam o suicídio de kurt cobain; "em minha terra", novo do john boorman; "flores partidas", promissora dobradinha jim jarmush/bill murray; o win wenders "don't come knocking", no qual o diretor retoma a parceiria com sam shepard, de "paris texas"; e o nosso "árido movie", de lírio ferreira. isso sem falar nos trabalhos mais recentes de gregg araki ("mistérios da carne"); michael haneke (com o bem falado "caché"); e do canadense atom egoyan ("where the thruth lies"), entre vários outros.

ainda temos as curiosidades "entrando na garganta profunda", documentário sobre o mais famoso (e engraçadíssimo) filme pornô de todos os tempos: "deep throat" (ainda me lembro da musiquinha: "deeeep throat, deeper than deep, deeeep throat"); "factotum", adaptação do livro homônimo de bukowski com matt dillon (!) no papel do velho safado; "edmond", colaboração inusitada entre o roteirista david mamet e stuart gordon (!), diretor, entre outras podreiras, de "re-animator"; a co-produção coréia do sul-china-hong kong "seven sword", um épico samurai; e, no mam, o clássico de vertov, "o homem com a câmera".

e olha que eu nem falei da première brasil, pois não costumo ver os nacionais no festival porque, de um jeito ou de outro, eles têm estréia garantida...

haja grana e disposição.

Monday, September 12, 2005

my death waits there / in a double bed



quando criança eu tinha medo de o mundo acabar. ficava horas no quarto de brinquedos da minha casa em padre miguel, remexendo nos carrinhos de metal, bonecos e revistas em quadrinhos, pensando no que aconteceria se a terra explodisse feito uma melancia jogada do décimo andar. eu não sabia, mas já era o medo da morte germinando na minha cabeça de meros sete anos de idade.

mais tarde, aos dez, não mais em padre miguel, e sim em três rios, o medo de o mundo acabar foi substituído por um pavor imenso da vida eterna como eu a concebia. tratava-se de um horror à idéia de que, após a morte, a consciência se prolongasse indefinidamente, singrando as eras num tédio imortal. de olhos fechados, na cama, imaginava o tempo post-mortem como linear e infinito e amargava essa idéia da linha se estendendo até se tornar insuportável.

óbvio, aos dez anos eu era um garoto impressionável e haviam me incutido todas as paranóias cristãs possíveis e imagináveis, ao ponto de eu criar este inferno particular, está prisão cósmica sem demiurgo. as ervas daninhas que se entrelaçam na sua cabeça na infância demoram uma vida inteira para serem retiradas, sendo que muitas vezes não saem por completo.

hoje, penso na morte em termos mais categóricos, menos místicos ou dramáticos. sempre considerei que a ausência de crenças tornasse a idéia da nossa mortalidade mais difícil de ser processada. agora, começo a achar que ela torna tudo mais fácil. com a palavra, ferreira gullar:

aprendizado

quando jovem escrevi
num poema 'começo
a esperar a morte'
e a morte era então
um facho
a arder vertiginoso, os dias
um heróico consumir-se
através de
esquinas e vaginas

agora porém
depois de
tudo
sei que
apenas
morro

sem ênfase

Saturday, September 03, 2005

carrie, a estranha



a rede record fez a gentileza de passar ontem "carrie", do brian de palma, baseado no romance do stephen king. excelente trabalho de de palma que ainda conta com o grande desempenho de sissy spacey como a menina vítima de uma mãe fanática religiosa e da crueldade de seus colegas de classe. carrie desenvolve telecinese (pessimamente traduzido pela dublagem como telepatia) como uma espécie de válvula de escape para a sua revolta contida. a seqüência inicial -- na qual carrie menstrua pela primeira vez no vestiário feminino, após a aula de ginástica, entra em pânico por não saber o que está acontecendo com ela e é humilhada pelas colegas -- determina o tom opressivo e angustiante do filme que vai num crescendo até o célebre clímax no baile de formatura.

stephen king publicou este seu primeiro romance em 1975, conquistando uma legião de leitores e pavimentando seu caminho de ícone da cultura pop e midas do mercado editorial. a versão para a tela grande é de apenas um ano depois, dado o estrondoso sucesso do livro, e dirigida por um de palma que era então conhecido somente por seu hitchcockiano "as irmãs diabólicas", na verdade um decalque de "festim diabólico". porém os traços característicos do diretor já estão lá: planos seqüência inacreditáveis, uso de split-screen, câmera lenta para sublinhar os momentos de tensão, etc.

a seqüência na qual carrie leva um banho de sangue de porco no baile de formatura é um primor: desde o instante em que o anfitrião anuncia que carrie e tommy foram escolhidos como o casal do baile até o momento do que o balde de sangue localizado em cima do palco cai sobre a cabeça de carrie, tudo transcorre em câmera lenta e a música oscila entre o sublime, quando carrie caminha em direção ao palco, e o estridente, quando são mostrados os estudantes escondidos que vão puxar a corda para derrubar o balde. graças à montagem exemplar, ficamos genuinamente tensos enquanto o maldito balde não cai logo na cabeça da personagem de spacek e, quando ele de fato cai e o pau come com carrie usando sua telecinese para se vingar de todos, o ritmo fica frenético, com as famosas cenas em split-screen e os assustadores closes em carrie banhada em sangue.

exemplo de como se fazer um filme de horror com clima, atmosfera e elegância. em tempos de remakes chinfrins como o de "massacre da serra elétrica" e "horror em amityville" e filmes de horror assépticos e sem personalidade, este "carrie" devia ser visto por todo e qualquer aspirante a diretor de terror. incluindo o walter salles.

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em tempo: mais um erro grosseiro de tradução na dublagem: carrie tenta explicar para a mãe durante o jantar que ela quer se dar melhor com suas colegas de classe e fala que as pessoas a acham "funny", ou seja, "estranha". a dubladora não tem dúvidas, sapeca um "mamãe, as pessoas acham que eu sou engraçada." e olha que o subtítulo em português é "a estranha", será que a dubladora queria que fosse "carrie, a engraçada"?

em tempo 2: qualquer pessoa que tenha sido implacavelmente zoada e humilhada na escola durante a pré-adolescência/adolescência, como o yours truly que vos escreve, vai olhar este filme com mais carinho. carrie white levou a cabo a vingança que todos nós planejamos secretamente, mas nunca colocamos em prática.

Thursday, September 01, 2005

o senhor não me perdoa / eu não estar numa boa / e perder sempre a esportiva...

algo está errado quando gente que tenta defender o seu com dignidade, sem fazer mal a ninguém e dando o melhor de si só fica levando cagada na cabeça.

chega por e-mail o desabafo de um amigo que, por ter expressado desejo (mais do que justo) de receber um aumento na empresa onde trabalha primeiro ouve um "você têm razão" do chefe e depois seus superiores (sic) ficam agindo como se a empresa estivesse fazendo um favor ao acenar com a possibilidade de acatar ao pedido. coisa do tipo "você não quer ganhar mais? ué, eu não estou vendo aumento na sua produtividade. você tem que fazer por onde, tem um um monte de gente aí que faria o seu trabalho pelo que você já ganha, ou por menos."

dois dias atrás, um amigo revela entre cervejas que já ficou uma semana sem dormir por conta de trabalho. não estou falando de um chefão da globo workaholic que tira o equivalente a três anos de trabalho de qualquer um de nós em um mês, tem iate em angra e mora numa cobertura na barra. falo de um bolsista cujo salário mal garante o aluguel e os vícios.

eu mesmo tenho tido que agüentar o pedantismo de certos babacas do meu metiér que se acham donos da verdade e, portanto, no direito de diminuir o trabalho dos outros.

enquanto isso, abro o jornal e me deparo com a seguinte manchete: "congresso aproveita crise e aumenta os próprios gastos." e, na matéria, "a média salarial no congresso é de R$9.500."

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eu sei que assim fica até difícil de falar de literatura, mas, como diria fausto wolff, antes que eu vomite no teclado, gostaria de agradecer aqui aos heróis que enriqueceram o segundo encontro do "conversando literaturas", na terça passada, na sala 412 do bloco B, no campus do gragoatá da uff: marlon, isa, ivan, fsx, adriana, ricardo "simpatia", maíra, jean e todos os demais que me dão um pouco mais de esperança na humanidade. para uma crônica definitiva de como foi o encontro, visitem o continuo sendo ignorado sistematicamente, do escritor e dublê de monitor marlon magno.
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