Monday, March 28, 2005

teenage riot

quase três da manhã / ouvindo "teenage riot" do sonic youth / na esperança de que concordemos todos que o tempo é uma coisa que não pode - nunca - ser medida / não é mesmo, senhoras e senhores? / tentando sempre encontrar importância nas coisas que fazemos sem nunca de fato acreditar nisso / opa, eis que começa "kool thing" / "i don't wanna, i don't think so"...:

" - o meu amor é sempre triste.
- é verdade, assim que te beijo você fica triste. já reparei.
- você fica chateado?
- não, não faz mal. alegro-me por você...

dentro de mim murmuro:

- gosto de você... gosto de você... gosto de você...

o meu amor talvez acabe saindo de mim, penso eu, carregado por aquelas palavras, como um tóxico é expulso do corpo pelo leite ou pelo purgante."
(j. genet)

Sunday, March 27, 2005

uma questão de coerência

as fibras mais sensíveis do meu corpo
após os excessos continuados
(meus pulmões lacerados,
minha boca aftosa
meus olhos injetados)
pedem o descanso
que eu nego incontinenti.

se não conseguimos mais ser dóceis
sejamos ao menos coerentes.

Saturday, March 26, 2005

"why'd you have to rise and ruin all my fun?"

são quase onze da manhã. acordei às seis, sem nenhum traço de ressaca, o que vem confirmar a teoria bittencouriana de que o álcool tem a ver com a alma: ontem, bebi por prazer e não por angústia, daí o bem-estar de hoje. li o jornal e comecei imediatamente a trabalhar nas traduções. trabalhei ao som do silêncio das ruas de sábado e da chuva tamborilando nos telhados. foi o suficiente para me dar uma sensação de quase felicidade. agora, o sol começa a sair e as pessoas, e os carros e as lojas já começam a entoar seus ruídos repetitivos e aborrecidos. continuarei trabalhando, mas sem o mesmo prazer de antes. vou baixar umas músicas do frank zappa durante, acho.

Friday, March 25, 2005

his 'n' hers



sexta-feira. jantar tímido no oriento, para mudar de ares. algumas cervejas, "escuridão ao meio-dia" de geraldo mayrink - um pequeno livro sobre "a condição masculina" - e audição (neste instante) do "his 'n' hers", do pulp, que acabo de terminar de baixar. umas das boas coisas de se trabalhar em casa em frente ao computador é que posso ficar baixando músicas da internet durante o processo. esse álbum do pulp é sonho de consumo não é de hoje. precursor do genial "different class", traz jarvis cocker, vocalista e letrista, no esplendor de seu cinismo, lirismo e impressionante capacidade de contador de histórias sobre relacionamentos ou momentos "de formação" na vida dos personagens de suas canções. cada música carrega um universo em si e o faz com a concisão e economia que podia servir de lição a muitos pretensos contistas por aí.

"his 'n' hers", lançado em 1994, teve o clipe do single "babies" veiculado pela mtv brasil na época. logo em seguida os clipes do "different class" (1995) apareceram: "disco 2000" e "common people", principalmente. os discos seguintes, "this is hardcore" (1998), que trazia entre seus temas principais solidão, indústria pornográfica, toxicomania e fama, e "we love life" (2001), esse sim conceitual, com quase todas as canções versando sobre a natureza (como "weeds", "birds in your garden" e "the trees"), não tiveram repercussão quase nenhuma por aqui.

hoje em dia, o pulp está em estado de hibernação, segundo o próprio jarvis cocker, que além de se dedicar à sua banda paralela, relaxed muscle, compõe sozinho a trilha do novo filme da série harry potter, "harry potter and the goblet of fire".

deixo aqui a letra de uma das minhas favoritas do "his 'n' hers", "david's last summer", um dos exemplos do acima mencionado talento de cocker para compor pequenas histórias no formato de música pop:

We made our way slowly down the path that led to the stream, swaying slightly, drunk on the sun, I suppose. It was a real summer's day. The air humming with heat whilst the trees beckoned us into their cool green shade. When we reached the stream I put a bottle of cider into the water to chill, both of us knowing that we'd drink it long before it had chance. This is where you want to be, there's nothing else but you and her and how you use your time. Walking to parties whilst it's still light outside. Peter was upset at first but now he's in the garden talking to somebody Polish. Why don't we set up a tent and spend the night out there? And we can pretend that we're somewhere foreign but we'll still be able to use the fridge if we get hungry or too hot. This is where you want to be...etc. This is where you want to be...etc. The room smells faintly of sun tan lotion in the evening sunlight and when you take off your clothes you're still wearing a small pale skin bikini. The sound of children playing in the park comes from faraway and time slows down to the speed of the specks of dust floating in the light from the window. Summer leaves fall from Summer trees. Summer grazes fade on Summer knees. Summer nights are slowly getting long, Summer's going so hurry soon it'll be gone. So we went out to the park at midnight one last time. Past the abandoned glasshouse stuffed full of dying palms. Past the bandstand down to the boating lake. And we swam in the moonlight for what seemed like hours until we couldn't swim anymore. And as we came out of the water we both sensed a certain movement in the air and we both shivered slightly and ran to collect our clothes. And as we walked home we could hear the leaves curling and turning brown on the trees and the birds deciding where to go for the Winter. And the whole sound of Summer packing its bags as it prepared to leave town. Oh but I want you to stay. Oh please stay for a while, I don't want to live in the cold.

Wednesday, March 23, 2005

o chamado 2



platéia lotada para a pré-estréia de "o chamado 2" que vem provar a atual crise de criatividade (e identidade) do cinemão americano. dessa vez (como já haviam feito com takashi shimizu em "o grito") chamaram o diretor do original japonês "ringu 2", hideo nakata, para fazer o remake, ao invés de continuar com o mais ou menos gore verbinski, que dirigira "o chamado".

o climão continua o mesmo: dá-lhe fotografia com filtro a dar com o pau, som dando prioridade aos ruídos supostamente assustadores (zunir de asas de moscas, o estalar dos ossos de samara, etc.) e atuações corretas tanto de naomi watts (sempre muito bonita de se ver, por sinal) quanto do menino david dorfman.

essa continuação joga fora quase todas as premissas do original para se concentrar numa simples história de possessão. samara, a menina da tal fita amaldiçoada do primeiro filme, quer se apossar do corpo do filho de naomi watts para voltar à vida.

um dos maiores problemas do filme é a absoluta falta de desenvolvimento dos personagens, uma vez que desde o começo a intenção é pregar um susto atrás do outro. alguns funcionam, outros não. salvam-se algumas seqüências boas, como a da feira de variedades e a do ataque dos cervos ao carro dos dois personagens principais. do original, também permanecem os ridículos buracos no roteiro.

sissy spacek faz uma breve aparição como a mãe de samara, internada em um hospício.

curiosidade: vi o trailer de "quarteto fantástico" e parece mais um desses filmes b com grana injetada, o que pode parecer uma contradição em termos, mas, hoje em dia (vide "demolidor") não é.

Saturday, March 19, 2005

zumbi do mato

em uma atitude que só posso definir como altruísta, a tamborete entertainment e a ant-discos, duas gravadoras militantes do underground carioca, resolveram relançar o primeiro cd do zumbi do mato, o indefectível "menorme". lançado em meados da década de 90 do século passado, "menorme" traz perólas saídas da cabeça doente porém viva de löis lancaster como: "tiroteio do esqueleto sem cabeça", "o buraco do jabor" e "zorba, o grego". o zumbi consegue fazer um som demente, iconoclasta, escroto, porém repleto de referências culturais de alto calibre

(löis lancaster é poeta - sei de dois livros lançados: "jamal" e "ceneida" - e escreveu uma dissertação de mestrado em teoria literária, na ufrj, sobre joyce. eis um poema de "jamal":

Oferenda

Sou um troglô neste banco, de chinelo,
Comendo uns bôlos com as mãos. Chega
Mulher classuda, com um belo
Par de pernas; meu bigode é nega

Cabeleira coberta de farelo. Certa,
Ela senta longe, mastigo de bocaberta.
Confiante em sua recusa, muito sozinho,
Num grunhido lhe ofereço um bolinho.
)

e cacetadas na política, mídia e hipocrisia nacional. a nova edição de "menorme" ainda vem com um bônus: o clipe de "o alien que veio do espaço" que deve ter passado umas duas vezes na mtv, na época em que a emissora ainda passava clipes, lembram?

o zumbi já tem lançado também o conceitual "pesadelo na discoteca" e está para lançar em abril o seu terceiro disco de inéditas, "gostei da mesinha".

para saber como comprar a nova edição do primeiro disco, é só entrar no blog dos caras que está na minha coluna de links, ao lado.

Wednesday, March 16, 2005

audition



takashi miike faz parte de uma nova leva de diretores japoneses que fazem uma espécie de cinema extremo de cuja fonte diretores ocidentais como tarantino e, porque não, peter "o senhor dos anéis" jackson, bebem desavergonhadamente. o filme em questão, "audition", foi filmado em 1999, três anos antes do filme que visibilizou miike internacionalmente: "ichi the killer".

"audition" conta a história de um viúvo que está a procura de uma nova esposa. como ele trabalha em uma produtora de cinema, um de seus colegas sugere que eles façam um teste (a audition do título original) para um filme que não vai existir e, dentre as moças que vão fazer esse teste, o nosso herói escolheria sua nova esposa. o cabra escolhe uma das moças, porém, a mulher tem segredos escabrosos que o pobre viúvo jamais poderia adivinhar. ela "fisga" homens solitários e os seduz, apenas para depois mutilá-los (cortando seus pés, dedos da mão e língua) e mantê-los cativos.

o que é mais impressionante nesse filme é o fato de a primeira hora ter uma narrativa lenta, contemplativa, de acordo com o estado sorumbático do viúvo e, a partir dos quarenta minutos finais, ganhar um aspecto de pesadelo na medida em que o personagem principal começa a entender as verdadeiras intenções da sua "escolhida".

em termos de brutalidade, "ichi the killer" estaria mais em concordância com "kill bill", com sua violência quase de desenho animado, estetizada. quando, em "kill bill", lucy liu corta a cabeça de alguém, a nossa primeira reação é dar uma gargalhada. assim como em "ichi the killer", no qual a violência não causa desconforto, por ser, por assim dizer, totalmente "de mentira". no "audition" (assim como em "jackie brown", do tarantino) a violência é mais desconfortável, pois é mais crua, não é tratada como espetáculo, e sim como testemunho da nossa carnalidade, e conseqüente mortalidade.

importante também, no "audition", é o som que acrescenta mais "realismo" às cenas mais violentas. me parece que, em todos os aspectos, miike quis fazer o filme mais verossímil, no sentido de que o que está acontecendo com o personagem principal poderia acontecer com qualquer pessoa.

isso sem falar no apuro técnico, que faz de "audition" um filme digno de passar em qualquer aula de aula de cinema. desde os enquadramentos pouco convencionais até a montagem não-linear.

imperdível.

Tuesday, March 15, 2005

the reborn smashing pumpkins archive



os smashing pumpkins foram uma das bandas de rock mais ambiciosas e criativas dos anos noventa. em dez anos de carreira, lançaram, entre outros álbuns menos bem-sucedidos comercialmente, o influente the siamese dream, que rompia com a estética grunge com suas músicas longas e elaboradas e, em seguida, o épico álbum duplo melon collie and the infinite sadness. hoje em dia, billy corgan, ex-vocalista e líder dos pumpkins, trafega entre projetos bons, porém pouco ouvidos, como a banda zwan, e tenta a sorte em outras searas, como a poesia. seu primeiro livro blinking with fists foi lançado ano passado nos eua.

neste link, encontram-se disponíveis inúmeros registros raros de quando a banda ainda estava na atividade, incluindo todos os mp3 do último show no metro, em chicago, cidade natal do grupo. quem deu a dica foi o RD, cujo blog está na minha lista de links.

Monday, March 14, 2005

metafraseando...

o blog que se descortina, byte por byte, na tela do seu computador nesse instante carrega nas costas, sem que você se aperceba, fantasmas de projetos começados e abandonados, ou abandonados antes mesmo de começarem. esse blog é filho de um antigo blog, "contos do submundo", do qual, eu espero, ninguém se lembra. é também último reduto do "bandeja", o jornal que nunca existiu, do qual fui editor-chefe junto com máximo heleno. alguns dizem que o "bandeja" foi o mais importante jornal imaginário de todos os tempos: tínhamos pautas maravilhosas que nunca saíram, como uma entrevista com um ex-professor de filosofia que hoje em dia trabalha como cobrador na central e uma matéria de "comportamento" sobre o que gostávamos de chamar de "o homem de ação", aquele cara que lê "valor", "isto é: dinheiro" e ama seu carro acima de todas as coisas. tenho certeza que a essência do "bandeja" estará viva no "metafrasta", que não pretende dizer nada de novo, somente metafrasear tudo o que eu achar minimamente relevante.

em termos de internet, tenho o hábito de deixar blogs, fóruns, multiply às moscas em tempo recorde. prometo que vou fazer o meu melhor para evitar que isso aconteça com esse blog. porém, se acontecer, não digam que eu não avisei.
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